Como ter força de vontade para fazer as coisas que preciso fazer?

Tempo de leitura estimado: 4 minutos

A causa de quase todos nossos males, é uma só: a fraqueza da vontade. Como ter vontade de fazer as coisas que precisamos fazer? Neste breve artigo discutiremos o que é a força de vontade (e o que ela não é), como fortalecer a nossa vontade e por que a vontade não funciona sempre? 

Boa leitura! 

O que é força de vontade?

Vontade é o nosso potencial de seguir uma ideia orientada pela razão, mesmo que ela não nos seja cômoda ou prazerosa. Duas são as atividades práticas da alma: apetite e vontade:

O apetite (desejo) é a tendência guiada pelo conhecimento sensível (obtido através dos sentidos – visão, audição, olfato, tato e paladar), e é próprio da alma animal. Esse apetite é concebido precisamente como sendo um movimento finalista (que tem um fim nele mesmo), depende do sentimento, que por sua vez depende do conhecimento sensível. A vontade é o impulso, o apetite guiado pela razão, e é própria da alma racional. (Aristóteles)

Em outras palavras, a vontade é o desejo racional de fazer o que é certo, mesmo não sendo o mais prazeroso, o mais fácil ou o mais cômodo para nós. É aquela força que nos impulsiona a: 

  • ler mais um capítulo do livro ao invés de matar o tempo nas redes sociais;
  • fazer uma comida mais saudável ao invés de pedir um lanche que é mais prático;
  • a levantar no primeiro toque do despertador, mesmo sendo domingo.

O que não é a força de vontade? 

Acabamos de ver que vontade é a força executora guiada pelo pensamento racional. Porém, muitas pessoas podem confundir a vontade com os sentimentos e gostos pessoais: a vontade vira sinônimo de prazer: “só faço o que me dá prazer”. 

Essa vontade equivocada tem origem em nosso apetite sensível, são nossos desejos animalescos, pois estes não são guiados pelo pensamento racional. 

Por exemplo, você sabe que precisa limpar o banheiro, mas ao invés disso você varre a casa, enquanto convence a si mesma de que não lavou o banheiro (que era a prioridade), mas, ao menos, está limpando a casa. Esse é um exemplo de vontade fraca. Você fez o que gostava, o que era mais cômodo no momento e não o que precisava ser feito

Por que você não tem força de vontade?
(Quando a força de vontade não funciona)

Sem um ideal, não há força de vontade. Quando eu decido por lavar o banheiro, mesmo não querendo fazer isso, há um propósito, uma aspiração ou um interesse onde se apoiará o meu pensamento racional, que me dará forças para a minha vontade prevalecer e não perecer. 

Por exemplo, escolhi limpar o banheiro porque:

  • O cheiro estava me incomodando;
  • Irei receber visitas para jantar aqui hoje e não quero que vejam um banheiro sujo;
  • Quero manter o lar limpo e aconchegante para que minha família se sinta amada.

Esse ideal também estará relacionado com nossas paixões (amor, ódio, desejo, medo, alegria, tristeza e ira), pois quando há um sentimento envolvido, nossa força de vontade multiplica as suas forças. 

  • (raiva) O cheiro estava me incomodando;
  • (vergonha) Irei receber visitas para jantar aqui hoje  não quero que vejam um banheiro sujo;
  • (amor) Quero manter o lar limpo e aconchegante para que minha família se sinta amada.

Para exercer a força de vontade, o pensamento racional é o início e é fundamental, mas sozinho ele não garante a prevalência da vontade, pois a ideia nela mesmo não tem força suficiente. A força que falta você acha no coração, no sentimento. Pois além de saber o que precisa ser feito, você precisa desejar fazer.

Quanto mais forte o propósito por trás da vontade, mais forte a vontade será. 

O que determina a vontade: Como fortalecer a vontade? 

Exercitando o hábito de dizer não nas pequenas coisas, para poder dizer sim a coisas de maior valor ー de maior propósito. “Não desprezes as pequenas coisas, porque através do continuo exercício de negar e te negares a ti próprio nessas coisas, fortalecerás, virilizarás a tua vontade […]”. (Caminho – São Josemaria escrivá)

Tendemos a acreditar que ao aparecer uma situação de grande mortificação teremos a força de vontade de cumprir o que dita a razão. Porém, se não temos uma vontade forte para vencer nas pequenas mortificações, quem dirá nas mais desafiadoras? 

“‘Não pudestes’ vencer nas coisas grandes, porque , ‘não quisestes‘ vencer nas pequenas coisas”. ( São Josemaria Escrivá)

O papel da mortificação nesta batalha é o “não” sereno e corajoso, absolutamente necessário para poder dizer “sim” a um ideal maior. A importância de fortalecer a vontade nos leva a uma vida verdadeiramente livre, onde não nos deixamos dobrar por nossos prazeres e caprichos. 

Uma vontade forte nos leva a conquistar o autodomínio e sermos senhores de nós mesmos. Senhores da nossa vontade, e essa é a virtude da temperança.  A Temperança é a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados (consumo e serviços). A pessoa temperante não se deixa arrastar pelas paixões do coração e é senhora de si mesma.

Conclusão

A força de vontade não é algo que brota sem esforço algum da nossa parte. Não podemos ser passivos e “esperar” (ou simplesmente acreditar) que teremos força de vontade quando a situação aparecer. Muito pelo contrário, precisamos ser proativos e buscar fortalecer a nossa vontade, para quando necessitarmos dela. E isso se faz dizendo não às pequenas coisas do dia a dia ー vivendo as pequenas mortificações ー para dizer sim a coisas de maior propósito.

A vontade sozinha, baseada apenas na razão pode ser falha, devemos buscar a força que falta nas paixões, no sentimento, pois quando há sentimento envolvido, a vontade multiplica suas forças. Devemos buscar apoiar nossa vontade em um forte ideal, propósito, aspiração. 

Por fim, a fortificação da vontade também é o caminho para a virtude da temperança, a virtude de ser senhor de si mesmo, ou seja, não suncubir aos prazeres e desejos não orientados pela razão. 

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💡O que você aprendeu:

  • Vontade é o nosso potencial de seguir uma ideia orientada pela razão, mesmo que ela não nos seja cômoda ou prazerosa.  
  • A vontade multiplica suas forças quando há um ideal forte por trás relacionado a algum sentimento.
  • Fortalecemos a vontade através das pequenas mortificações e este é o caminho para a virtude da temperança, ser senhor de si mesmo. 

Livros referência: 

Autodomínio Elogio da Temperança – Francisco Faus

A Educação da Vontade – Jules Payot


Imagem: Florence Carlyle, The Studio, 1903. Oil on canvas, 58.6 × 76.7 cm. Gift of Mrs. Dasselaar, Collection of the Woodstock Art Gallery. Photo: John Tamblyn. Fonte