O Poder da língua venenosa se esconde atrás de comentários aparentemente inofensivos, aprenda a não cair neles

Tempo de leitura estimado: 6 minutos

Por que nos é tão fácil criticar a vida alheia e fazemos isso sem esforço algum? E ao mesmo tempo é tão difícil refrear a nossa língua ferina? Podemos ponderar algumas boas respostas para essas questões, mas hoje vou me contentar com a seguinte: a língua fala daquilo que está cheio o coração. 

Neste breve artigo aprenderemos sobre a origem da língua ferina, conheceremos o poder da língua e seus 2 venenos para aniquilar suas presas e como podemos refrear a nossa língua venenosa.

Boa Leitura!

Onde nasce a língua ferina?

Você já se perguntou por que pensamos mal e acabamos falando mal das pessoas? Sempre ou quase sempre é porque algo está contaminado na nossa alma. Essa contaminação tem sua fonte no Orgulho e na Inveja.

Orgulho

O orgulho é a principal causa que nos move a pensar e a falar mal dos outros:

“A pessoa humilde reconhece os seus erros. A orgulhosa tem a necessidade de justificá-los, desculpando-se e, sobretudo, convencendo-se de que os outros fazem como ele e provavelmente fazem bem pior”.

A língua – Francisco Faus (2016), pág. 30

Você já deve ter ouvido algo sobre a lei do espelho: o que me incomoda no outro, é uma falha que existe em mim mesmo. Ou, em outras palavras: o que você vê no outro é sempre um reflexo seu. 

“São muitos os que focalizam as pessoas com as lentes deformadas dos seus próprios defeitos. Se eles são interesseiros negar-se-ão a aceitar que o desinteresse dos outros seja autêntico: ‘Algo está por trás'”.

A língua – Francisco Faus (2016), pág. 30

Inveja: 

A segunda causa que nos move a falar mal dos outros é a inveja. A inveja, assim como o orgulho, nos leva a formar o mau juízo, a chama incendiária da língua ferina.

“Para a moça feia, a bonita necessariamente será burra ou leviana. Para o preguiçoso, que não foi capaz de levar avante um trabalho sério, o profissional honesto bem sucedido terá galgado o êxito baseando-se em falcatruas”. 

A língua – Francisco Faus (2016), pág. 31

Muito pode nos ajudar, a sermos uma pessoa melhor ao procurarmos, reconhecer os motivos íntimos desses nossos juízos críticos sobre as pessoas. Então que nos lembremos de fazer um exame de consciência antes de abrir a boca para falar mal do próximo. Pois, a língua fala daquilo que está cheio o coração

Lembremo-nos também que muito provavelmente você estará julgando e condenando a si mesmo. Esta breve reflexão é um ótimo primeiro passo para aprender a refrear a língua

O poder da língua: 2 poderosos venenos da língua

A língua destila seu veneno através de dois meios: a maledicência e a calúnia. De acordo com o livro A língua ー Francisco Faus (2016):

A maledicência (ou difamação) é praticada por aquele que, sem razão objetivamente válida, releva as faltas e defeitos de outros. 

A calúnia é, através de mentiras, prejudicar a reputação alheia favorecendo a criação de falsos juízos, sobre o sujeito, por outras pessoas. Veremos em mais detalhes a seguir.

O Poder da Língua: A maledicência 

Para ficar mais simples, pense que a maledicência é maldizer alguém, falar mal do sujeito, apesar de ser verdade aquilo que é dito.

Aqui temos um ponto muito importante que merece nossa atenção: por mais que seja um fato comprovado isso jamais é condição válida e que nos habilita a revelar e espalhar as faltas de ninguém por aí, pois ainda estaremos cometendo a maledicência.

Não cabe a nós espalhar mau juízo dos outros aos quatro ventos sem um motivo válido. Todos nós temos nossas próprias falhas por reparar, então que deixemos as dos outros de lado, porque cuidar das nossas já nos exige muito trabalho. 

A única justificativa válida para revelar defeitos e faltas alheias é quando o calar-se ameaça o bem comum, “especialmente os dos mais pequeninos, os dos inocentes, falar dos erros e defeitos com que outros lhe causam dano torna-se um dever”.

A língua – Francisco Faus (2016), pág. 39

O Poder da Língua: A calúnia

Vejamos o que fala sobre a calúnia o livro A língua ー Francisco Faus: 

“A calúnia ou é filha da frivolidade (futilidade) irresponsável, que repete falsidades sem apurá-las, pelo prazer de maldizer; ou visa maldosamente destruir, afundar, denegrir, fazer mal“.

A Língua – Francisco Faus (2016), pág. 42

Através dessa passagem é possível entender que a calúnia é ainda muito pior que a maledicência, pois, quem a pratica, espalha mentiras com intuito de fazer o mal. E, infelizmente, um coração assim está envenenado com sentimentos negativos como a inveja e até o ódio.

A calúnia, aparentemente, pode se mostrar nas coisas mais “bobas” como aquele comentário maldoso na hora do cafezinho ou aquela conversa pelo whatsapp.

Lamentavelmente, a nossa ânsia de querer ser o portador das últimas novidades (seja ela boa ou má) é mais forte que o nosso bom senso de parar e pensar se este assunto é da nossa conta, se é verdade mesmo e qual a minha colaboração ao espalhá-lo por aí.

E o que dizer quando muitas vezes falamos mal do próximo apenas pelo prazer de maldizer, só para nos sentirmos melhores conosco mesmo e superiores aos outros?

Por fim, muitas vezes abrimos mão de exercer a justiça e praticamos a calúnia com a desculpa esfarrapada de defender uma causa maior, com quaisquer armas e a qualquer preço:

“Dizem-se e escrevem-se autênticas aberrações sem fundamento, baseadas muitas vezes numa simples suspeita, no que ‘se diz’ (isto é, no que alguma pessoa mal-intencionada ou irrefletida comentou), no que ‘se escreve naquele país’, ou no que ‘interessa’, afinal combater, com quaisquer armas e a qualquer preço – a começar pela mentira –, por razões ideológicas, políticas ou econômicas é o que “importa”. Desta forma, leviana ou maliciosamente, soterram-se pessoas e instituições debaixo de toneladas de lama.”

A língua – Francisco Faus (2016), pág. 43

Não sejamos levianos com assuntos que não procuramos investigar a fundo. O fato de não saber que era mentira não nos isenta de tê-la espalhado, já que também agimos mal ao criticar algo sem saber ao certo e contribuímos para o estrago feito.

Como refrear a língua e não cair no pecado da língua venenosa?

A resposta mais direta para esta pergunta está na passagem a seguir: A boca fala do que o coração tá cheio.

“Uma árvore boa não dá frutos maus, uma árvore má não dá bom fruto, porquanto cada árvore se conhece pelo seu fruto. […]. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, porque a boca fala do que o coração está cheio.”

Lc 6,43-45

As nossas palavras são um retrato falado do nosso coração. Quando as palavras têm raízes no amor, são sempre fecundas. Então a resposta para refrear a língua venenosa e encher nosso coração com coisas boas.

E como fazemos isso? Irá nos ajudar conhecendo os 3 tipos de coração: 

O Coração Envenenado

Um coração envenenado carrega consigo um mau tesouro e gerará frutos podres. Lembra-se que a língua ferina nasce do orgulho e da inveja? Precisamos nos habituar a olhar para dentro e encarar nossas misérias, aceitá-las e por fim lutar contra elas. Ao querer um jardim fecundo e florido, precisamos primeiro nos livrar das ervas daninhas, daí abriremos espaço para as flores.

O Coração Vazio

Do coração vazio nada se consegue tirar e, em consequência, nada de válido se pode expressar nem transmitir; só palavras vãs. Palavras vãs ou ociosas é aquela que não carrega consigo nada de bom, porque está vazia de ideias e sentimentos, e portanto, é inútil para o amor.

Um coração vazio ocorre quando há no interior dos homens pouca riqueza de ideias, valores, reflexões, sentimentos e ideais. E contra esse mal fazemos uso do silêncio e da reflexão, habitat fecundo para brotar a boa palavra, que são como ramos viçosos a irromper em frutos. Pois só são grandes e valiosas as palavras que se geram no seio do silêncio, da leitura e do pensamento reflexivo.

O Coração Cheio do Bom Tesouro 

É no silêncio reflexivo que se formam as convicções e se enraízam as virtudes; aí se definem as linhas mestras da luta pessoal por melhorar cada dia um pouco mais.

Quando um homem ou uma mulher, por terem amadurecido no silêncio, se vão tornando ricos desse seu ‘bom tesouro’ podem ir tirando, sem nunca ficarem pobres.

Um coração fecundo e cheio do bom tesouro é mais resistente contra a o orgulho e a inveja, o berço da má língua. Que cuidemos do nosso coração como um jardim: removendo as ervas daninhas do orgulho e da inveja e adubando no silêncio e reflexão.

🎁Dica bônus: Aconselho a leitura deste outro artigo sobre como desenvolver a virtude do bom humor. Esta virtude é muito importante porque nos ajuda a ver o lado bom das coisas e das pessoas.

Conclusão

Que fiquemos atentos ao poder da língua ferina, porque vamos sempre tender a algo do tipo “foi só um comentário pequeno e inofensivo…”, “só comentei com meu marido…”, “nao falei por malícia…”, se conseguirmos vencer essas pequenas batalhas do dia a dia de frear a língua no nosso cotidiano, já estaremos fazendo um excelente trabalho na busca de um coração cheio do bom tesouro.

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💡O que você aprendeu?

  • A língua ferina se origina no orgulho e na inveja, antes de falar, que olhemos para dentro em busca das nossas próprias misérias. 
  • Mesmo sendo verdade, não se tem o direito de revelar defeitos e faltas dos  outros sem uma razão digna.
  • Combata a língua no silêncio da reflexão, pois a boca fala do que o coração tá cheio.

Livros referência: A Língua –  Francisco Faus

Imagem: Two Women Behind a Grille – Bartolomé Esteban Perez Murillo